quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vai entender...

Seres humanos são criaturas complexas, já reparou?
Claro que isso se aplica a um zilhão de situações, mas quer um exemplo?
Seres humanos são criaturas que amam reclamar! Passam todo o tempo reclamando. Vivem perguntando qual o sentido da vida mas, no fundo, trata-se apenas disso: reclamar.
No verão fica todo mundo pedindo uma brisa pelamordedeus, que ninguém aguenta mais a temperatura semelhante à de um forno. Afinal, somos pessoas, não frangos de padaria.
Aí vem o frio e todo mundo começa a reclamar do vento, de ter que deixar o calor das cobertas, de ter que colocar mil roupas pra sair de casa.
Eu me abstenho. Detesto calor! A gente já acorda colando... você nem levantou da cama e já está transpirando feito um maratonista em fim de prova. Qualquer pedaço de pano com mais de um metro quadrado incomoda, fora a sonolência o dia todo e a vontade de ficar de cara com um ventilador, de preferência com a língua de fora, para ver se refresca por dentro.
Nasci no continente errado, já sei. Brasil é um país tropical, já dizia Jorge Ben, quando ainda era Jor; ame-o ou deixe-o e coisa e tal. Deixá-lo-ei assim que possível for, economicamente falando, não por falta de amor e patriotismo, mas unicamente em busca de terras menos providas de pontos no quesito "sensação térmica". Enquanto isso não acontece, fico calada e quase não reclamo do calor senegalês que faz por aqui no verão, mesmo morando eu tecnicamente no sul do país.
Enfim, como amo o inverno, aprecio temperaturas com apenas um dígito e toda essa parafernalha de casaco, cachecol, bota, gorro, luva e etc, quando esfria o legal é reparar que a maioria da população simplesmente não gosta de época nenhuma, só gosta de reclamar. Prova disso é que basta esquentar no decorrer do dia que todo mundo começa a reclamar de novo, dizendo que o tempo não se decide. Ué, o problema não era o frio?
Só um exemplo, naturalmente. Eu poderia falar disso um dia inteiro, mas estaria me desviando do assunto. De fato, seres humanos reclamam de toda e qualquer coisa. Provavelmente explodiriam caso não tivessem do que reclamar.
Talvez por isso a humanidade enfrente tantos problemas, das mais variadas ordens: seres humanos não precisam de salários maiores, políticos menos safados, cônjuges menos canalhas, uma inflação mais camarada, perguntas menos cretinas ou um chefe mais compassivo. Seres humanos precisam de motivos para reclamar! Só ficam felizes assim, não há o que se possa fazer para melhorar seu humor se tudo caminhar bem em suas vidas.
Pessoas não querem resolver seus problemas, elas só querem falar sobre eles, discutí-los, debatê-los, espremê-los e depois, de preferência, poder colocá-los de lado sem correr o risco de vê-los solucionados.
Criaturas complexas e malucas, esses seres humanos...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre acéfalos, arrependimentos e o tempo

Sabe o colegial? Aquele, que abrange da 5ª à 8ª série? Então, alguém exploda, por favor.
Aliás, aproveite o ensejo e detone também o Ensino Médio.
Sempre achei adolescentes criaturas com meio cérebro. E digo isso porque já fui um deles. E digo, inclusive, que eu também tinha meio cérebro... mas está cada vez pior.
No último sábado fui ao cinema. Algumas fileiras à frente, cerca de novecentos e oitenta e oito adolescentes de uns 16 anos aparentemente tinham acabado de aprender o significado da interjeição "foda-se", porque não se incomodaram com a presença das demais pessoas na sala para tirar milhares de fotos, gritar de um lado a outro da sala e fazer tanta arruaça quanto foi possível, inclusive cantando "parabéns a você" antes do filme começar, mesmo com geral sabendo que não era aniversário de nenhum deles.
Hoje, segunda-feira, sem dúvida o comentário no colégio foi "Véi, a gente fez uma zona no cinema sábado! Foi da hora!" - se é que alguém ainda fala "da hora", gíria que estava em voga quando eu pertencia a essa raça.
Ok, sinto-me como aquela vizinha véia que ficava reclamando da bagunça da molecada, mas a questão não é a bagunça; a questão é a vergonha alheia.
Porque eu sei, por experiência própria, que esses seres humanos um dia sentirão muita vergonha desse tipo de atitude! Um dia eles terão cérebros, e então se arrependerão pelas vezes em que disseram "véi", pelas vezes em que causaram em lugares públicos, pelas vezes em que usaram a roupa que era moda entre as pessoas de sua faixa etária, pelo tipo de música que ouviram... em suma, se arrependerão pela fase inteira, dos doze aos dezenove anos, exatamente como acontece comigo.
Eu sei que esse será o triste destino dessas criaturas e gostaria de poder salvá-las da fase.
Assim como eu sei que meninas dessa faixa etária gostam de classificar meninos de qualquer faixa etária como "gostoso". Embora não saibam que, na verdade, não sabem o que quer dizer gostoso! Provavelmente achem que gostoso é aquele mané bombadinho que estuda com elas, reprovado umas 3 vezes, que usa boné para trás, além do moletom com cinco vezes o tamanho que ele usaria; e que não sabe fazer outra coisa exceto tomar bomba e ficar fumando no intervalo, o que provavelmente acarreta advertências e suspensões. E elas vão ao delírio! Ah, o fascínio feminino pela anarquia...
E que meninos dessa faixa etária gostam de ver peitos e classificar meninas que eles beijem de "fáceis", embora não saibam que, na verdade, não sabem o que quer dizer fácil! Embora devessem agradecer a elas por tolerarem sua acne, a voz fina e o jeito mané de ser, falar e se vestir. Provavelmente pensem que elas são "fáceis" porque deram uns amassos atrás do colégio... como se eles próprios não tivessem feito o mesmo! Ah, o machismo enraizado...
Adolescentes acham o máximo estourar extintores de incêndio no banheiro, roda de baba no livro por dormir durante a aula, fugir pulando o muro na hora do intervalo, inventar novas expressões não-dicionarizadas que ninguém fora de sua roda de amigos vai entender.
Eu sei. Eu também achava. Assim como achava o máximo as Spice Girls, Malhação e pedir uma Coca de dois litros na Patota (bar frequentado, ao menos uma vez na vida, pela totalidade da população mandaguariense nascida a partir de 1950 - não estou exagerando, vide o nome super "in" que leva o estabelecimento), já que ninguém vendia mais que Keep Cooler aos menores de dezoito.
Mas isso não me impede, hoje, de abominar as cinco fogosas garotas, tirar sarro do seriado babaca e passar a quilômetros de distância do bar pré-histórico.
Portanto, pelo bem de nosso futuro, podem atear fogo ao colegial e ao Ensino Médio. Não há, em outra fase da vida, tanta asneira reunida!
Mas, pensando bem, salvai os gostosinhos e as garotas fáceis, pra que eles possam, um dia, perceber o quanto o tempo melhora as coisas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Estranha.

Quem é essa que me encara do espelho? Seus olhos trazem tantas emoções que eu não a reconheço.

Sim, alguns traços permanecem os mesmos, mas até mesmo seu sorriso, seu tão familiar sorriso, me diz que, por dentro, ela não é, nem nunca mais será, a mesma com quem me habituei.

No interior ela traça uma intensa batalha com seus próprios demônios, todos seus erros, seus medos, seus fracassos, gritando que nem adianta tentar, que ela nunca será capaz.

De outro lado a sua fé, sua força de vontade, sua coragem, tentando fazê-la ignorar todos os gritos, se levantar e seguir em frente no caminho que a levará ao sucesso.

Seus sonhos guerreando com seus pesadelos incessantemente em seu interior, fazendo-a sentir, sofrer, chorar, sorrir, se desesperar. E mesmo assim, a imagem do espelho sorri pra mim.

Afinal, quem é essa?