segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre acéfalos, arrependimentos e o tempo

Sabe o colegial? Aquele, que abrange da 5ª à 8ª série? Então, alguém exploda, por favor.
Aliás, aproveite o ensejo e detone também o Ensino Médio.
Sempre achei adolescentes criaturas com meio cérebro. E digo isso porque já fui um deles. E digo, inclusive, que eu também tinha meio cérebro... mas está cada vez pior.
No último sábado fui ao cinema. Algumas fileiras à frente, cerca de novecentos e oitenta e oito adolescentes de uns 16 anos aparentemente tinham acabado de aprender o significado da interjeição "foda-se", porque não se incomodaram com a presença das demais pessoas na sala para tirar milhares de fotos, gritar de um lado a outro da sala e fazer tanta arruaça quanto foi possível, inclusive cantando "parabéns a você" antes do filme começar, mesmo com geral sabendo que não era aniversário de nenhum deles.
Hoje, segunda-feira, sem dúvida o comentário no colégio foi "Véi, a gente fez uma zona no cinema sábado! Foi da hora!" - se é que alguém ainda fala "da hora", gíria que estava em voga quando eu pertencia a essa raça.
Ok, sinto-me como aquela vizinha véia que ficava reclamando da bagunça da molecada, mas a questão não é a bagunça; a questão é a vergonha alheia.
Porque eu sei, por experiência própria, que esses seres humanos um dia sentirão muita vergonha desse tipo de atitude! Um dia eles terão cérebros, e então se arrependerão pelas vezes em que disseram "véi", pelas vezes em que causaram em lugares públicos, pelas vezes em que usaram a roupa que era moda entre as pessoas de sua faixa etária, pelo tipo de música que ouviram... em suma, se arrependerão pela fase inteira, dos doze aos dezenove anos, exatamente como acontece comigo.
Eu sei que esse será o triste destino dessas criaturas e gostaria de poder salvá-las da fase.
Assim como eu sei que meninas dessa faixa etária gostam de classificar meninos de qualquer faixa etária como "gostoso". Embora não saibam que, na verdade, não sabem o que quer dizer gostoso! Provavelmente achem que gostoso é aquele mané bombadinho que estuda com elas, reprovado umas 3 vezes, que usa boné para trás, além do moletom com cinco vezes o tamanho que ele usaria; e que não sabe fazer outra coisa exceto tomar bomba e ficar fumando no intervalo, o que provavelmente acarreta advertências e suspensões. E elas vão ao delírio! Ah, o fascínio feminino pela anarquia...
E que meninos dessa faixa etária gostam de ver peitos e classificar meninas que eles beijem de "fáceis", embora não saibam que, na verdade, não sabem o que quer dizer fácil! Embora devessem agradecer a elas por tolerarem sua acne, a voz fina e o jeito mané de ser, falar e se vestir. Provavelmente pensem que elas são "fáceis" porque deram uns amassos atrás do colégio... como se eles próprios não tivessem feito o mesmo! Ah, o machismo enraizado...
Adolescentes acham o máximo estourar extintores de incêndio no banheiro, roda de baba no livro por dormir durante a aula, fugir pulando o muro na hora do intervalo, inventar novas expressões não-dicionarizadas que ninguém fora de sua roda de amigos vai entender.
Eu sei. Eu também achava. Assim como achava o máximo as Spice Girls, Malhação e pedir uma Coca de dois litros na Patota (bar frequentado, ao menos uma vez na vida, pela totalidade da população mandaguariense nascida a partir de 1950 - não estou exagerando, vide o nome super "in" que leva o estabelecimento), já que ninguém vendia mais que Keep Cooler aos menores de dezoito.
Mas isso não me impede, hoje, de abominar as cinco fogosas garotas, tirar sarro do seriado babaca e passar a quilômetros de distância do bar pré-histórico.
Portanto, pelo bem de nosso futuro, podem atear fogo ao colegial e ao Ensino Médio. Não há, em outra fase da vida, tanta asneira reunida!
Mas, pensando bem, salvai os gostosinhos e as garotas fáceis, pra que eles possam, um dia, perceber o quanto o tempo melhora as coisas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Estranha.

Quem é essa que me encara do espelho? Seus olhos trazem tantas emoções que eu não a reconheço.

Sim, alguns traços permanecem os mesmos, mas até mesmo seu sorriso, seu tão familiar sorriso, me diz que, por dentro, ela não é, nem nunca mais será, a mesma com quem me habituei.

No interior ela traça uma intensa batalha com seus próprios demônios, todos seus erros, seus medos, seus fracassos, gritando que nem adianta tentar, que ela nunca será capaz.

De outro lado a sua fé, sua força de vontade, sua coragem, tentando fazê-la ignorar todos os gritos, se levantar e seguir em frente no caminho que a levará ao sucesso.

Seus sonhos guerreando com seus pesadelos incessantemente em seu interior, fazendo-a sentir, sofrer, chorar, sorrir, se desesperar. E mesmo assim, a imagem do espelho sorri pra mim.

Afinal, quem é essa?