quinta-feira, 2 de abril de 2009

Do abraço

Quando me deitei a seu lado ontem à noite eram duas da manhã e eu não tinha a intenção de acordar ninguém. Principalmente em vista da sua dificuldade declarada em pegar no sono todos os dias.
Fato é que era tarde, eu estava incerta quanto à minha decisão de ter saído de casa e não queria causar mais problemas do que já tínhamos.
Talvez se faça necessário explicar que muito da minha necessidade de abraçar, beijar e apertar quem eu amo vem da minha doce progenitora. Fui criada à base da proximidade. Preciso estar perto, junto, quase entrar em fusão, para demonstrar a imensidão do meu afeto.
Minha mãe sempre foi de um carinho extremo conosco, de botar no colo mesmo e fazer ninar. Desde cedo me acostumei a esse traço de sua personalidade e a ele adaptei a delicadeza que julgo possuir, ainda que apenas de leve.
Apesar disso, nunca entendi muito bem como fomos nos tornar tão íntimas, tão cúmplices, tão mãe e filha e amigas e irmãs. Seu carinho sempre presente me deixa segura e creio que venha daí a relação tão sublime que se desenvolveu entre nós.
Mas ontem, quando abri a porta do quarto e ela acordou, e me deitei a seu lado às duas da manhã e, após dizer boa noite, ouvi num fio de voz aquele "me abraça?!", toda a leveza da nossa ligação desceu devagar do teto do quarto, veio parar no meu coração, deixando tudo perfeitamente simples, totalmente claro, completamente explicável, absolutamente puro.
Eu virei para o lado e a abracei. E naquele abraço estavam contidos vinte anos da sua dedicação a mim, aos meus irmãos, à nossa felicidade.
E foi assim que eu, às duas da manhã de uma quarta-feira, me tornei sua mãe também.
[Carolina]

Um comentário:

Paula disse...

Lindíssimo! Há tempo não lia algo caloroso assim...Me bateu uma saudade da minha mãezinha agora. Acho que vou dar uma ligadinha pra ver como ela está! Isso sim que é um texto motivador!