Quando me deitei a seu lado ontem à noite eram duas da manhã e eu não tinha a intenção de acordar ninguém. Principalmente em vista da sua dificuldade declarada em pegar no sono todos os dias.
Fato é que era tarde, eu estava incerta quanto à minha decisão de ter saído de casa e não queria causar mais problemas do que já tínhamos.
Talvez se faça necessário explicar que muito da minha necessidade de abraçar, beijar e apertar quem eu amo vem da minha doce progenitora. Fui criada à base da proximidade. Preciso estar perto, junto, quase entrar em fusão, para demonstrar a imensidão do meu afeto.
Minha mãe sempre foi de um carinho extremo conosco, de botar no colo mesmo e fazer ninar. Desde cedo me acostumei a esse traço de sua personalidade e a ele adaptei a delicadeza que julgo possuir, ainda que apenas de leve.
Apesar disso, nunca entendi muito bem como fomos nos tornar tão íntimas, tão cúmplices, tão mãe e filha e amigas e irmãs. Seu carinho sempre presente me deixa segura e creio que venha daí a relação tão sublime que se desenvolveu entre nós.
Mas ontem, quando abri a porta do quarto e ela acordou, e me deitei a seu lado às duas da manhã e, após dizer boa noite, ouvi num fio de voz aquele "me abraça?!", toda a leveza da nossa ligação desceu devagar do teto do quarto, veio parar no meu coração, deixando tudo perfeitamente simples, totalmente claro, completamente explicável, absolutamente puro.
Eu virei para o lado e a abracei. E naquele abraço estavam contidos vinte anos da sua dedicação a mim, aos meus irmãos, à nossa felicidade.
E foi assim que eu, às duas da manhã de uma quarta-feira, me tornei sua mãe também.
[Carolina]
Um comentário:
Lindíssimo! Há tempo não lia algo caloroso assim...Me bateu uma saudade da minha mãezinha agora. Acho que vou dar uma ligadinha pra ver como ela está! Isso sim que é um texto motivador!
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